Marcado: festival

“Free Men Weekend”, com David Deida

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Entre os dias 28 e 30 de outubro, 100 homens se reuniram em Highlands, North Carolina, para um retiro com meu professor David Deida. Momento único, já que David estava há mais de dez anos sem realizar um grupo específico para homens, tendo passado essa década praticamente recluso durante em média onze meses por ano, saindo da toca apenas para alguns poucos finais de semana de palestras e grupos mistos. Um fenômeno novo parece ter sido o principal motivador de sua ‘re-emergência’ deste longo período de retiro. Mas falo sobre isso mais adiante. Primeiro, ao grupo.

A experiência de conviver intensamente com um grupo, em primeiro lugar, tão grande, e, sem segundo, com tipos dos mais diferentes backgrounds, foi muito forte! Nos encontramos no aeroporto de Atlanta, na manhã de sexta-feira 28, vindos de várias partes do mundo. Havia homens do Canadá, Itália, Inglaterra, Alemanha, Leste Europeu, e, claro, de diversos estados norte-americanos. Do Brasil, somente eu e outro conterrâneo, que foi criado na Nova Zelândia e mora atualmente a Itália. A faixa etária variava de 25 a 72, com os mais variados interesses e profissões, mas muitos no grupo eram terapeutas e líderes de grupos de homens, interessados em se reconectarem com David. Muitos estariam com ele pela primeira vez.

O local foi muito próprio para este tipo de evento, um resort nas montanhas da Carolina do Norte, cerca de três horas de carro a partir do aeroporto de Atlanta. Acomodações em cabines de 2 a 8 pessoas, muita natureza e ar puro para nos revigorar, e uma comida ótima apoiavam o intenso trabalho que fizemos ali.

Por conta do elevado número de homens, os encontros com David – que aconteciam sempre à tarde e à noite – eram em um auditório, com cadeiras em duas seções ao longo do salão, e o formato destas sessões eram essencialmente de “pergunta-e-resposta” após uma fala inicial de David, com um espaço limitado para uma interação mais pessoal. Durante as manhãs de sábado e domingo, trabalhávamos diversos exercícios físicos e de respiração, com o apoio do grupo de 4 assistentes.

Como meu foco era estar com ele, chegava sempre bem cedo para pegar lugar na primeira fila. Por conta disso, tive a ‘sorte’ de subir ao palco junto com outros dois homens para um exercício mais focado e específico, tendo o privilégio de interagir com ele mais diretamente e, especialmente, de receber feedback direto do grupo de 100 homens, o que é SEMPRE muito útil. Exatamente o que eu buscava ali! (Não vou detalhar aqui, mas o feedback que recebi do grupo foi extremamente positivo e apenas confirma que minha prática está alinhada e na direção correta.)

Independentemente do histórico pessoal e das preferências de cada um, as questões que cada um trazia eram sempre relevantes para o grupo como um todo. Como identificar seu propósito? Como alinhar suas atividades diárias com este propósito? Como lidar com o trabalho, o mundo e seus relacionamentos? Como melhorar sua vida sexual, sua relação íntima? Enfim, os temas inquietantes do masculino moderno.

O mais interessante foi notar – depois de ter estado com ele pela última vez há 11 anos – que David está emergindo com seu trabalho a partir de um lugar mais profundo, de maior consciência, de maior presença, visivelmente resultado deste longo período de quase isolamento meditativo. Assim, mesmo tratando de temas mais ‘mundanos’, como relacionamento, carreira, mulheres, etc., ele sempre ‘aponta’ para o transcendente, o assim-chamado ‘lado espiritual’, sempre nos remetendo de volta à nossa condição original de não-separação, de união com tudo e todos. Minha impressão é que muitos não percebem isso, pois ainda estão ‘identificados’ ou envolvidos com suas questões mais pessoais, o que reduz a capacidade individual de apreender o quadro mais completo que há por trás de todo o movimento, o canvas de consciência onde tudo acontece. Há às vezes uma confusão entre o ‘dedo’ e a Lua para a qual o dedo aponta, na metáfora sufi.

De qualquer forma, as práticas foram intensas e transformadoras, para muitos dos homens ali presentes. Já na primeira noite, David encerrou os trabalhos trazendo ‘Spectra’, uma linda e jovem aluna sua, que se postou no palco enquanto os 100 homens exercitavam técnicas de respiração e presença, com o intuito de ‘abrir’ o Feminino. Spectra tem uma prática muito consistente de ioga sexual, e seu corpo se movia e respondia imediatamente de acordo com a profundidade do grupo de homens à sua frente. Era um exercício curto – algo de, no máximo, cinco a dez minutos – mas intenso, pelo qual ELA refletia diretamente a nossa capacidade estarmos mais presentes através da respiração e de outros exercícios que David nos mostrou. Difícil descrever em palavras um momento de êxtase de parte a parte, no qual uma jovem completamente vestida e um bando de homens respirando podem experimentar uma intimidade e um encontro único de modo tão intenso e raro, o que reflete o quão especial é esta prática. O exercício se repetiu a cada noite e de modo cada vez mais profundo, à medida que o grupo avançava no domínio de certas técnicas de respiração e presença, e Spectra podia refletir para nós o grau de maturidade e abertura do grupo.

No último jantar, antes da sessão de encerramento com Deida, tivemos um exercício de “3º estágio” (veja coluna sobre o tema aqui) entre os homens, no qual cada participante tinha que identificar outro homem para o qual fosse possível oferecer algo e abri-lo para o 3º estágio, e assim sucessivamente. Podia ser algo simples, do tipo “preciso que você alinhe sua coluna e respire mais profundamente” até coisas mais criativas e interessantes que foram acontecendo durante aquela uma hora de exercício. O nível de presença e a intensidade da abertura na sala quase ao final do exercício eram inacreditáveis! Como é possível estarmos sempre mais abertos e alertas, servindo um ao outro e ao mundo à nossa volta de modo muito mais intenso do que o nosso ‘nível habitual’ de convivência civilizada nos permite! Precisamos ousar, mas com consciência e sensibilidade!

Enfim, o grupo foi muito rico, cada homem ali contribuiu com o coletivo, dentro das suas possibilidades e apesar das dificuldades de cada um, com uma genuína disposição para estar presente e oferecer o melhor de si para o grupo. Uma experiência única de reconexão com o masculino sagrado, do qual o mundo moderno está tão carente. Foi revigorante para mim e uma experiência especial para quem estava com David pela primeira vez. Depois do retorno, hoje os homens se mantém conectados diariamente através de um grupo online fechado, e a continuidade da aplicação das práticas tem sido visível e transformadora.

Por fim, comento o que Deida compartilhou conosco como um dos motivadores para ele ‘sair da toca’ e voltar a compartilhar e treinar pessoas em seu método de trabalho. O recente fenômeno do ‘burning man‘ – eventos que são como uma grande festa rave, com a diferença de que ali se levam instalações artísticas que serão queimadas (daí o nome) no final do evento – está se espalhando pelos Estados Unidos e tem se revelado, na leitura dele, uma bela expansão do Feminino: todos se maquiam, pintam o corpo, tomam êxtase e dançam e celebram livremente, sem limites e com o propósito explícito de se abrirem para o feminino em cada um. E aqui ele enxergou uma nova possibilidade: o burning man é um movimento saudável em direção ao 2º estágio, com uma nova abertura para o feminino (em homens e mulheres, veja bem!) e seus atributos mais elevados. No entanto, sabemos que este ainda não é o ‘estágio final’, e aqui David enxergou uma possibilidade nova, de treinar um grupo de praticantes de ioga sexual para levarem estrutura (= masculino!) para a abertura (já existente) no burning man e, assim, criarem um legítimo festival de 3º estágio! A experiência ainda está em seus estágios iniciais, de formação do tal grupo de praticantes. Ficarei de olho no que vai resultar e compartilharei por aqui! Fica o convite! Bora lá!

Por enquanto, os próximos passos são: Tiffani e eu fomos selecionados para o exclusivo retiro de final de ano com o Deida na Flórida, um intensivo de três dias de prática, para apenas 14 casais. Estamos animados, nos preparando para o evento, e voltaremos inspirados para darmos o Retiro de Carnaval no Tao Tien, em fevereiro de 2017.
(Veja maiores informações aqui).

Aho!

“Danza Duende” – Remarks from a male perspective

by Ahanti Camarano

(Traduzido a pedido)
I wrote these notes from Serpa, Portugal, during the 3rd Danza Duende International Festival. Created by Yumma Mudra, a French-American witch-gypsy-dancer, the ‘Duende’ is really a delightful party of the feminine energies, expressed in an explosion of creativity that pervades this peaceful mediavel town’s deserted streets, close to the Spanish border in the Andaluzian region.

I came here through the invitation received by my wife, Tiffani Gyatso, to offer her “Slow Art” workshop as part of the event’s program. We took advantage of our planned vacations on a rented RV through Spain and Portugal, and put it all together. And what a surprise to arrive at this stronghold of art and creativity in the middle of the Portuguese ‘Alentejo’. 
The Festival is organized around the so-called ‘duende’, the creative ‘spirit’ behind eveything that takes place here, developed into a system and a school of creation by Yumma Mudra – and that I barely begin to understand while observing the activities and performances in Serpa. 
For five days, the city is fully dedicated to the event, with accommodations and local restaurants overflooded by the (majority of) women that come here to improve their expression in the ‘duende’, to share their works of art, to teach, comingle, create, laugh and cry together. In a word, to touch and open all and everything around them.
The city itself has an interesting story, earning its name from a serpent-dragon (“Serpa”) which – in ancient times – was supposed to show up in critical moments to help and support the local population, or to save them from external threats, like an enemy attack. 
Curiously, the city was kept (or so it seems to!) as it was a long time ago, with stone-paved streets, and its low, small white houses, and a wall marking the aqueduct and former castle that once defended the medieval town. Suspended time, suspended world.
One will be surprised to find the amount of modern facilities the city has to offer, like the two theaters, a high-quality public swimming-pool, plus the wonderful restaurants, all of it disguised behind old-aged white facades. 
The event has four ‘official’ languages: English, Spanish, French and Portuguese. But, in truth, the official language is that of creativity expressed through the body, the gesture and the movement, more than any spoken word, so that one can always enjoy what is being communicated, since it’s non-verbal. 
Women come from several countries, ages, and backgrounds. You can find from real gypsies (literally!) to high-level Brussels state bureocracy executives, all emerging here with their own unique, authentic contribution to this creative party that probably has no similar throughout the world. All of them absolutely gorgeous, with no exceptions.
Once again, I’m taken aback by the sheer absence of men in events of this kind. We are maybe 6 or 7 among 70+ women, whose presence dominate, with large margin, the masculine one. In his lecture on Friday morning, July 22nd, Michel Rahji, Yumma’s partner and co-organizer of the event, emphasized this point, saying also that most men present here came to the festival through their wives/partners, as it was in my case. Very seldom an event on the ‘Danza Duende’ will be an attractor for men these days.
In times like these, a small participation from the masculine side catches everyone’s attention, like yesterday’s evening, when four representatives of the local choir joined the group of women who were celebrating the four elements, and offered typical Serpa’s songs to enliven our night, in a rare combination of lost innocence and presence that touched all the participants. 
The feminine is growing, spreading itself, expanding the perceivable horizons, and not only in the more ‘obvious’ spaces, like in dance, arts, and creativity, but also in the corporate world. More and more, women are occupying spaces formerly reserved to men, from oil rigs to large corporations board rooms, not to mention the public sphere, where we can already find great women leaders – Angela Merkel, Theresa May, Hillary Clinton (?).
This is obviously a positive change – it’s never too much stressing this point – that must also be followed now by an expansion of the masculine, i.e., of the male presence in these so-called ‘typically feminine’ meetings, like this Danza Duende here in Serpa.
It’s about time for men to wake up to what is happening and begin opening themselves to the feminine aspect – within themselves and in others –, and to discover new elements of their own psyche, in order to catch-up with what their female partners are doing, so that they could walk together towards a more integral, more integrated, and more balanced way of living. 
Maybe it is only when we, men, find ourselves ready to embrace this last step that the world might collectively raise from a predominantly male chauvinistic ethos – most noticeably in the corporate sphere – and the planet could move towards a more balanced stage, where the Great Mother – Nature, the big “She” – becomes the guide to our daily actions. 
Should this movement take less then 100 years, then we might have a chance of surviving in this little Planet Earth of ours.